Em um cenário de incertezas econômicas e inflação persistente, a taxa básica de juros da economia assume papel central nas decisões de crédito. Desde empréstimos pessoais até financiamentos de longo prazo, a Selic define o ritmo das operações financeiras e impacta diretamente o bolso de consumidores e empresas.
A Taxa Selic, cujo nome vem do Sistema Especial de Liquidação e Custódia, é a referência para todas as outras taxas de juros no Brasil. Definida a cada 45 dias pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), ela serve como principal instrumento de política monetária para controlar a inflação.
Nos últimos meses de 2025, a Selic atingiu o patamar de 15% ao ano, o maior nível em quase duas décadas. Esse aumento gradativo, de 11,25% em janeiro de 2024 para 15% em junho de 2025, reflete a necessidade de conter a inflação acima das metas estabelecidas pelo governo.
O aumento da Selic em 2025 foi motivado por pressões inflacionárias internas e fatores de instabilidade econômica global, exigindo resposta rápida do Banco Central para evitar a escalada de preços.
O canal de transmissão da Selic para os empréstimos envolve diversos componentes de custo de crédito, como captação, inadimplência, impostos e margem de lucro dos bancos. A Selic é apenas um desses elementos, mas exerce peso fundamental na formação das taxas cobradas.
Em geral, o repasse da variação da Selic aos juros ao consumidor ocorre em prazos que variam de semanas a meses. No caso do crédito imobiliário, por exemplo, o efeito costuma se consolidar em torno de seis meses.
Para financiamentos empresariais e empréstimos consignados, a velocidade de ajuste costuma ser maior, refletindo rapidamente as decisões do Copom nas ofertas de crédito.
No crédito imobiliário, a diferença de apenas 1,48 ponto percentual na taxa entre 2024 (9,42% a.a.) e março de 2025 (10,90% a.a.) gerou um acréscimo de R$ 91.675,65 em juros para um financiamento de R$ 500 mil ao longo de 30 anos, segundo simulação em tabela SAC.
Essa variação nota que cada ponto percentual na Selic tende a refletir, em média, 0,43 ponto percentual na taxa de financiamento imobiliário, com defasagem de aproximadamente seis meses.
Quando a Selic está alta, o crédito encarece, reduzindo o consumo e provocando retração econômica. Em cenários de Selic baixa, observa-se estímulo ao crédito e aumento da atividade mercantil.
O aumento da Selic age como um freio sobre a economia, encarecendo o financiamento de casas, carros e capital de giro para empresas. Setores como varejo e construção civil são diretamente afetados pela elevação dos custos de financiamento.
Por outro lado, a Selic elevada beneficia investidores de renda fixa, que passam a encontrar maior atratividade em títulos públicos e CDBs, competindo com o mercado de crédito e limitando ainda mais o consumo.
O principal objetivo de elevar a Selic é combater a inflação, reduzindo a demanda agregada, mesmo com impactos negativos sobre o crescimento do PIB.
Surpreendentemente, o FMI observou que o crédito no Brasil continuou em expansão, mesmo com a Selic em 15%. Fatores como inovação nos meios de pagamento, maior competição entre bancos e o avanço de fintechs têm impulsionado novas linhas de crédito.
O mercado não bancário, composto por financeiras e fintechs, oferece alternativas mais rápidas e flexíveis, reduzindo o efeito de desaceleração esperado pela alta da taxa básica.
O Copom tem reuniões marcadas para novembro e dezembro de 2025, em que avaliará dados de inflação e atividade econômica para definir a Selic em 2026. A expectativa de manutenção ou elevação dependerá do comportamento dos preços.
Empresas e pessoas físicas precisam se preparar para cenários de alta e de eventual queda da Selic, ajustando estratégias de financiamento e investimento conforme o momento econômico.
Conclusão
A Selic é o principal termômetro das condições de crédito no Brasil. Seu entendimento é fundamental para quem planeja tomar empréstimos ou investir. Acompanhar as decisões do Copom e as projeções econômicas ajuda a escolher o melhor momento para contratar financiamentos e proteger suas finanças pessoais e empresariais.
Referências